Do lado dos gatilhos, além do humor macro, surgiram sinais de pressão vendedora “por fluxo” que ajudam a explicar por que as recuperações pareciam sempre incompletas. No dia 17, a Cointelegraph destacou transferências grandes para exchange (4.000 BTC para a Binance, associadas a carteiras ligadas à Matrixport), reacendendo o medo de distribuição e reforçando a leitura de que qualquer repique poderia ser usado como liquidez de saída — um combustível clássico para pavios: o mercado sobe, encontra oferta escondida, falha, e volta a testar suportes.
Amarrando tudo: essas agulhadas recentes têm “cara” de microestrutura, não de mudança estrutural de tendência. É a combinação de liquidez sazonal reduzida, alavancagem sensível e eventos/fluxos pontuais (como entradas relevantes em exchange) produzindo squeezes curtos e reversões rápidas — com o preço oscilando entre recuperar patamares psicológicos e, ao mesmo tempo, “perder o chão” quando a oferta reaparece. Enquanto esse padrão dominar, a leitura mais provável segue sendo de mais testes em suportes (com risco de esticar para zonas mais baixas quando o mercado mirar os níveis de custo/defesa destacados no on-chain), antes de qualquer retomada consistente.
Análise On-Chain: Indicadores de Derivativos

Aqui, 3 dos mais importantes indicadores do mercado de derivativos: Open Interest, Long/Short Ratio e Basis que, juntos contam uma história bem típica de “mercado em correção, mas ainda nervoso”:
No Open Interest (1D), o que salta aos olhos é a queda forte do OI na virada de 20–26/11 e, depois disso, um patamar mais baixo e relativamente estável até 18/12, com pequenas ondulações. Essa leitura é importante: quando o OI não volta a subir com convicção, os movimentos com agulhadas tendem a vir menos de “nova alavancagem entrando” e mais de ajustes forçados (liquidações, stops varridos, reprecificação rápida em livro mais ralo). Em outras palavras, as sombras longas que vimos na semana ficam bem compatíveis com um ambiente de desalavancagem prévia + liquidez mais fina, onde qualquer choque de fluxo desloca o preço com facilidade.
Já no Long/Short Ratio (1D) e no Basis, aparece o “temperinho” que costuma gerar essas pancadas e repiques. O L/S cai para uma zona mais baixa no fim de novembro e, em dezembro, vai inclinando para cima, com um pico claro por volta de 16/12, sugerindo que o mercado foi ficando mais “carregado” no lado long no curto prazo (ou, no mínimo, mais confiante em compras alavancadas).
Ao mesmo tempo, o Basis permanece majoritariamente negativo e volta a aprofundar a negatividade na segunda quinzena, sinal de prêmio fraco/discount no futuro (ambiente mais defensivo, com demanda de hedge e menor apetite por pagar prêmio para estar comprado). Essa combinação é a receita de volatilidade em chicote: com OI contido, mas posicionamento enviesado, o preço pode “espirrar” para cima e para baixo conforme o mercado caça liquidez.
E agora? vem mais squeeze? O painel sugere que o risco mais óbvio, no curto prazo, é de squeeze de longs (movimentos de baixa que limpam alavancagem comprada), porque o L/S subiu enquanto o basis segue desconfortável.
Mesmo assim, qualquer aceleração de alta pode produzir squeezes rápidos do outro lado se houver shorts concentrados, mas isso exigiria ver OI reabrindo e o basis melhorando para sustentar tendência, não só “agulhada”.
HeatMap de Liquidações:
Já no heatmap de liquidações, as faixas mais claras funcionam como “ímãs” de preço porque concentram alavancagem e, portanto, gatilhos de liquidação: dá para ver camadas relevantes logo acima do preço (principalmente na região de ~90K–93K) e, ao mesmo tempo, um “tapete” consistente abaixo (com destaque para ~84K e degraus mais baixos), o que combina com o comportamento da sessão: primeiro o mercado se sustentou, depois fez uma perna de queda mais seca e passou a lateralizar em patamar inferior, sinal clássico de que parte do risco foi varrida e o restante ficou redistribuído em zonas bem definidas. Quando cruzamos isso com os indicadores anteriores — OI sem expansão forte, Long/Short Ratio inclinando para cima e basis negativo — a leitura mais coerente é que o mercado está com mais “lenha” no lado comprado do que no vendido, de modo que a pressão mais provável, no curto prazo, é a de um long squeeze mais iminente.
Bitcoin: Gráfico Diário
O gráfico diário do BTC segue com cara de continuação de correção, e o que mais chama atenção é a combinação de preço caminhando dentro do golden pocket (entre 87.5K e 83.9K) com o mercado “escorregando” para a região de menor liquidez. O fechamento atual em 85.5K já coloca o preço mais perto do 0.618 (83.9K) do que do 0.65 (87.5K), e isso é importante porque, logo abaixo dessa faixa, o VPVR afunila e vira um Volume Area Low que, pela própria leitura do perfil, “abre espaço” para deslocamentos mais rápidos (pouca troca de mão histórica segurando preço).
Quando eu cruzo o heatmap de liquidações com o que o gráfico está mostrando agora, a história das “agulhadas” fica mais coerente: os mapas costumam denunciar onde existe combustível (alavancagem concentrada) para movimentos bruscos. A queda que traz o preço de volta para 85–84K é compatível com uma limpeza de longs (varridas em regiões de liquidação abaixo dos ranges recentes), e o fato de o preço continuar pressionando dentro do golden pocket sugere que o mercado ainda está “testando o piso” com pouca disposição de sustentar repiques longos. Se vier novo mergulho e encostar/romper 83.9K, a leitura do próprio perfil de volume reforça que o movimento pode ganhar velocidade justamente por falta de “densidade” intermediária até níveis mais abaixo.
No bloco de tendência, as médias do setup ajudam a “dar nome” ao que o olho já sente: EMA8 e SMA21 (média central da BB) estão descendentes e em paralelo, com o preço abaixo da zona verde (BB Dev2) há vários candles — e isso, estatisticamente, costuma favorecer repique curto para continuar caindo, não o contrário. As Bandas de Bollinger também estão apontadas para baixo, com o preço operando na parte inferior do envelope; e com o BBWP elevado (~77), a mensagem é que o mercado ainda está em regime de volatilidade, onde rompimentos e varridas são mais prováveis do que “andar de lado bonitinho” para o final do ano.
Nos candlesticks, o trecho final está bem “limpo”: depois de tentativas de recuperação, o preço volta a imprimir sequência de candles vermelhos e fechamentos mais baixos, com pavios superiores relativamente contidos — sinal de que o comprador até tenta reagir, mas não está conseguindo retomar controle do fechamento. Em tendência de baixa, esse detalhe pesa, porque confirma oferta ativa em qualquer repique e dificulta a construção de topos ascendentes consistentes no diário.
Os osciladores do painel estão todos alinhados para o mesmo lado: RSI abaixo da sua média (~36.9) indica fraqueza (ainda sem “capitulação” clássica), MACD bem negativo e abaixo do sinal sustenta o viés baixista de momentum, MoneyFlow em território negativo (~-9.9) sugere saída líquida de fluxo, e o Momentum (~-44) confirma que a força do movimento ainda é descendente. Somando isso ao CVD (linha roxa) mantendo leitura negativa — ou seja, agressão vendedora dominando mesmo quando o preço tenta estabilizar — o cenário mais provável segue sendo o de novos testes de suporte dentro do golden pocket, com o mercado precisando “provar” que consegue defender 83.9K antes de qualquer conversa séria sobre retomada.
Ouro Semanal
No ouro no semanal, o contraste com o BTC é quase didático: o metal está consolidando imediatamente abaixo da linha da ATH, comprimindo preço numa região onde normalmente só fica “quem aguenta” — e o detalhe mais forte do seu setup é que a EMA8 serviu como suporte durante praticamente todo 2025, deixando uma sequência de candles que, mesmo quando corrigem, fazem isso sem perder a estrutura. Isso conversa direto com a leitura de momento e força predominantemente em ascensão, e com um CVD também ascendente, ou seja, a pressão compradora não está só “no gráfico bonito”: ela aparece no fluxo. O movimento de hoje — que quase cravou uma nova ATH — reforça a ideia de que o ouro está em zona de decisão por continuidade, com o mercado fazendo aquele “ensaio final” típico de rompimento: segurando acima das médias rápidas, defendendo o pivô e testando a paciência de quem está vendido perto do topo histórico.
CONCLUSÃO
A fotografia que fica, juntando BTC, derivativos, fluxo e ouro, é a de um fim de ano em que o mercado voltou a ser técnico e implacável, enquanto a narrativa de rede social seguiu vendendo “200K inevitável” como se preço subisse por decreto.
No BTC, a leitura combinada foi bem coerente: price action preso e escorregadio dentro do golden pocket, cada repique encontrando oferta antes das zonas de maior interesse do perfil de volume, CVD sugerindo que a agressão vendedora segue mandando no bastidor, e uma estrutura de tendência onde o preço passou dias abaixo da zona verde das BB (Dev2), com médias rápidas tentando reagir, mas sem recuperar tração de verdade.
Do lado dos derivativos, o quadro ajuda a explicar as “agulhadas”: o mercado está com cara de terreno de caça — liquidez em camadas, razão long/short e basis dizendo que o jogo está mais para reposicionamento e varredura do que para tendência limpa; nesses contextos, o squeeze vira ferramenta de limpeza (para cima ou para baixo), não confirmação de fundo.
E enquanto isso, o ouro faz exatamente o oposto do cripto: consolida colado na ATH, com momento/força em alta, CVD em ascensão e EMA8 segurando o ano inteiro, sinal de demanda estrutural. Se o BTC continuar falhando em reconquistar regiões-chave e o mercado insistir em “comprar esperança” sem base técnica, o clima fica pronto para um cenário em que novos testes de suporte são mais prováveis do que um rali sustentado — e, sim, isso inclui a possibilidade de o preço trabalhar abaixo de 80K antes de encerrar a correção, o tipo de choque de realidade que deixa bem claro: para quem jurava 200K, já estamos muito abaixo da metade do caminho e, principalmente, abaixo da metade da convicção do próprio mercado.
⚠️ Aviso
Esta análise é apenas um estudo técnico e não representa recomendação de investimento. |
