O fim das AltSeasons?
Por que uma nova AltSeason pode não ocorrer!

O que é alt-season (e por que ela importava)?
A superlotação do mercado: de 4.500 para mais de 17.800 altcoins
Em 2021, havia cerca de 4.500 altcoins listadas nas principais plataformas de dados, como CoinMarketCap e CoinGecko. Hoje, em 07 de junho de 2025, esse número ultrapassa as 17.800 moedas, segundo a CoinGecko. Isso representa um crescimento de quase 400% em menos de quatro anos — e não necessariamente um sinal de evolução tecnológica. Pelo contrário: trata-se de um sinal claro de saturação e fragmentação de mercado.
Esse crescimento vertiginoso criou um problema: a saturação absoluta do mercado. A grande maioria dessas novas moedas são tokens sem propósito, muitas vezes lançados automaticamente em plataformas como Uniswap ou PancakeSwap por desenvolvedores anônimos ou bots que replicam contratos genéricos.
Não estamos mais falando de projetos ambiciosos tentando resolver problemas reais. Estamos falando de tokens criados exclusivamente para gerar padrões de Pump & Dump, com liquidez falsa, bots de front-running e holders que somem depois de duas semanas. Muitos nem sequer têm um roadmap — e quando têm, é copiado de outro projeto. E mesmo aqueles que pareciam sérios no início, eventualmente encontram meios escusos de resetar o ciclo: criam um novo token de governança, iniciam um rebranding como “versão 2.0” ou migram para outra rede, muitas vezes sem honrar os compromissos assumidos com os holders iniciais.
O efeito colateral disso é brutal: o investidor perde confiança na ideia de altcoins como classe de ativos. E sem confiança, não há temporada. Projetos legítimos acabam sendo engolidos pelo ruído de scams e moedas meme, e isso contamina o ecossistema como um todo. A liquidez se dispersa, e o capital institucional simplesmente ignora.
A verdade é que, com as ferramentas disponíveis hoje, qualquer pessoa com conhecimento básico de Solidity consegue criar um token em menos de 15 minutos, usar templates prontos, e subir o contrato numa DEX com uma liquidez artificial de US$ 500 para dar aparência de legitimidade. Plataformas como Ethereum, BNB Chain e Base reduziram a complexidade técnica a ponto de qualquer projeto ser lançado com um clique — o que, na prática, abriu as portas para uma enxurrada de ativos inúteis. Estima-se que menos de 10% dos tokens listados em plataformas abertas possuem documentação técnica, site funcional, equipe verificável e auditoria de contrato. Os demais? Servem exclusivamente ao velho script: Pump & Dump.
Casos assim se tornaram comuns: projetos que em 2022 estavam entre os top 100 por capitalização, hoje se transformaram em iniciativas obscuras, com liquidez evaporada e comunidades abandonadas. Alguns tentam sobreviver através de estratégias de marketing em massa, influenciadores pagos e “airdrops” que nada mais são do que iscas para inflar volume em redes sociais
O novo investidor quer segurança — e o macro não ajuda
O efeito institucional: ETFs e exchanges mudaram tudo
Desde o lançamento dos ETFs spot de BTC e ETH, o acesso institucional ao mercado cripto mudou de patamar. O que antes exigia abertura de conta em exchanges asiáticas, uso de MetaMask e compreensão de liquidez on-chain, hoje pode ser feito com um clique dentro do app do banco ou da corretora.
E o que o investidor institucional compra? BTC e ETH. E só. Nenhum fundo regulado vai colocar capital relevante em tokens como FLOKI ou SUI — não porque sejam ruins, mas porque não há infraestrutura institucional, custódia segura ou clareza regulatória para esse tipo de ativo.
Os ETFs de Bitcoin Spot aprovados pela SEC em 2024 trouxeram bilhões em fluxo para o ativo. Segundo dados da Bloomberg, os ETFs de BTC já ultrapassaram US$ 80 bilhões em AUM (ativos sob gestão). Os de ETH, embora menores, também capturaram bilhões. Isso significa que grande parte da demanda de cripto foi drenada diretamente para dois ativos apenas, deixando o restante do mercado esvaziado.
Enquanto isso, nenhuma altcoin além de ETH tem aprovação regulatória para um ETF spot nos EUA. O ciclo vicioso está instaurado: sem acesso regulado, não há captação institucional; sem captação, não há valorização; sem valorização, não há narrativa. A altseason se torna, então, uma possibilidade cada vez mais remota.
Bitcoin como reserva institucional: o novo ouro das nações?
Outro fenômeno recente é o movimento de governos e fundos soberanos comprando BTC. El Salvador já é velho conhecido, mas em 2025 surgem rumores (alguns confirmados) de que países como Argentina, Rússia e até estados americanos como Texas estão formando reservas em Bitcoin.
Além disso, há estudos mostrando que grandes tesourarias corporativas estão alocando uma fração de seu caixa em BTC como hedge cambial e proteção contra inflação. Apple, Tesla e algumas gigantes asiáticas já indicaram posições discretas em ativos digitais, e o BTC sempre aparece como o primeiro — e às vezes único — da fila.
Se o Bitcoin passa a ser considerado um ativo estratégico de reserva, o que isso significa para as altcoins? Simples: elas se tornam irrelevantes nesse contexto. Nenhum governo vai acumular AVAX ou PEPE como reserva de valor. A dominância do BTC cresce — e consolida seu lugar no topo da cadeia cripto.
Esse tipo de movimento é importante porque reforça a ideia de que o Bitcoin é o único ativo cripto que efetivamente “atravessou o Rubicão” — saindo do mundo especulativo e entrando no portfólio de grandes alocadores globais.
Análise técnica: o gráfico TOTAL3ESBTC como reflexo da mudança estrutural
O gráfico TOTAL3/BTC, que representa a capitalização de mercado de todas as altcoins excluindo BTC, ETH e stablecoins dividida pela capitalização de mercado do BTC, revela uma leitura técnica contundente. Desde o topo em 2021, o índice exibe uma tendência de baixa consistente, sem qualquer sinal sustentável de reversão.
Atualmente, o TOTAL3/BTC está pressionado sob as três principais médias móveis semanais — EMA9, EMA50 e EMA200 — atuando todas como resistência dinâmica. A rejeição clara na EMA49 nas últimas semanas reforça o predomínio vendedor.
A leitura do indicador F!72 Market Monitor confirma essa fraqueza estrutural: o WaveTrend segue mergulhado abaixo da linha neutra, com histograma em contração e ausência de barras verdes significativas. O oscilador estocástico também permanece afundado na zona de sobrevenda, sem cruzamentos ascendentes que indiquem mudança iminente. Além disso, o ADX (não visível nesse gráfico, mas previamente citado) reforça a força dessa tendência de queda, que já dura 212 semanas (com a atual).
O suporte histórico em 0.208779 torna-se o último bastião relevante antes do colapso estrutural total desse índice. Se perdido, o mercado de altcoins frente ao BTC entra em território inexplorado, sugerindo que a dominância do Bitcoin pode continuar a crescer por tempo indeterminado. Essa zona já segurou o índice no passado (2018 e 2020), mas agora encontra um contexto técnico e macro muito mais adverso.
Narrativas não bastam: AI, RWAs, gaming… tudo sem fluxo
Mesmo com o surgimento de novas narrativas em 2024 e 2025 — como tokens de inteligência artificial (FET, AGIX), RWAs (tokenização de ativos reais como OUSG e ONDO), jogos Web3 e L2s otimizadas — nenhuma delas conseguiu recriar a exuberância de ciclos anteriores.
Por quê?
Simples: falta capital. E não apenas capital, mas também confiança, timing e uma combinação de fatores técnicos, políticos e sociais que, juntos, criavam aquela tempestade perfeita da altseason.
Não adianta ter uma boa ideia se:
- O mercado está avesso a risco
- Os fundos estão comprando BTC via ETF
- O varejo está traumatizado com perdas passadas
- O investidor tradicional tem 5% do portfólio e já está 100% alocado em BTC
As altcoins perderam o espaço de protagonismo e viraram subprodutos especulativos. Elas sobem, sim. Mas de forma isolada e sem força para liderar ciclos. E muitas vezes, essas altas são rapidamente revertidas, reforçando a ideia de que o mercado atual não tolera exuberância irracional fora do BTC.
O que precisa mudar para uma nova altseason nascer?
Ainda é possível que uma nova altseason ocorra no futuro. Mas para isso, alguns fatores precisariam mudar:
- Inovação real: surgimento de novas tecnologias ou utilidades disruptivas
- Descentralização real: projetos que fujam da lógica de insiders e VCs
- Fluxo de capital novo: entrada massiva de novos investidores dispostos a risco
- Reconfiguração macro: queda dos juros, estabilidade política, volta do apetite global a risco
- Nova euforia no varejo: retomada de ciclos de mania como os de 2021
Sem isso, o mais provável é que o mercado continue em modo “BTC first, altcoins later” — com o grosso da valorização ocorrendo no Bitcoin, e apenas depois, caso sobre apetite, algo pingando nas altcoins. O investidor precisa de um novo catalisador para voltar a acreditar no potencial exponencial das altcoins — e esse catalisador ainda não apareceu.
Conclusão: o reinado do Bitcoin está só começando
A altseason como conhecíamos parece realmente ter morrido. O gráfico TOTAL3/BTC mostra isso com clareza. A estrutura de mercado, os fluxos de capital e a percepção do investidor mudaram. E com isso, o papel das altcoins no ecossistema cripto encolheu.
Ainda veremos ralis em alguns tokens? Sim. Mas como exceção, não como regra. Esses ralis provavelmente virão em ondas curtas, impulsionadas por influenciadores, pumps de curta duração ou ciclos internos das plataformas, como ocorreu com a rede Base ou com tokens de rollups em estágio alfa.
O Bitcoin é, neste momento, o centro gravitacional do mercado — e as altcoins estão presas à sua órbita. Para escapar dessa gravidade, será preciso mais do que boas ideias: será preciso um novo ciclo de confiança coletiva, algo que o mercado ainda não está disposto a oferecer.
⚠️ Aviso
Esta análise é apenas um estudo técnico e não representa recomendação de investimento. O mercado de cripto é volátil e envolve riscos. Faça sua própria pesquisa (DYOR) antes de tomar decisões. Invista com responsabilidade.
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